Márcia Cristina Hizim Pelá
Doutorado em andamento
Título da pesquisa: Uma nova (des)ordem nas cidades: o movimento dos sujeitos não desejados na construção e ocupação dos espaços urbanos das capitais do cerrado – Goiânia, Brasília e Palmas
Resumo da pesquisa, inclusive de resultados:
A tese a ser apresentada tem como objetivo principal analisar o processo de espacialização dos sujeitos não desejados nas capitais planejadas do Cerrado: Goiânia, Brasília e Palmas. A proposição é que a relação dialética entre a norma e a vida, por meio do trabalho e das práticas socioculturais, promove deslizamentos de sentidos nas formas e nos conteúdos dos espaços urbanos provocando, assim, uma nova (des)ordem nestas cidades.
Em caráter explicativo, calha expor que o termo 'sujeitos não desejados' foi cunhado pela autora em sua dissertação de mestrado[1] para referir-se aos trabalhadores construtores da cidade de Goiânia, uma vez que, apesar de estes trabalhadores representarem maior contingente envolvido no processo de construção de Goiânia, não havia sequer um espaço a eles reservados no plano original. Tal fato nos levou à constatação sobre a relação que se tentou imputar entre a temporalidade da construção destas cidades e o direito destes operários de nelas residirem, ou melhor, o direito de usufruírem de suas obras nas/das cidades que contribuíram para edificar.
Este fenômeno, que também aconteceu no processo de construção de Brasília e Palmas, perdura até os dias de hoje, revelando, assim, que os sujeitos não desejados nos espaços planejados destas cidades hoje não são apenas os trabalhadores construtores. Acrescenta-se a este grupo um enorme contingente de trabalhadores que impulsionados por diversos fatores, como a expulsão do campo, a falta de trabalho, moradia e perspectiva que de vida digna em suas cidades etc., migram para Goiânia, Palmas e Brasília na “esperança” da possibilidade da perspectiva de trabalho e de melhores condições de vida.
No entanto, estas cidades foram construídas e são geridas dentro da lógica do modo de produção capitalista. São cidades, inicialmente, planejadas, como anuncia Moraes (2003), Oliveira (2008), Ribeiro (2008) e Lira (2009), pelo e para o capital. Para alcançar esta estratégia, inúmeras táticas foram usadas, como a inteligência urbanista que ilusoriamente camufla o caráter de controle destas cidades; o discurso ideológico que garante a imagem ilusória de cidades-sujeitos e ordeiras; os preceitos da carta de Atenas (até mesmo em Palmas), que a partir da proposta de funcionalidade garante os espaços segregacionistas e fragmentados na cidade; o ufanismo em torno da necessidade de modernização e integração,enfim, uma conjunção de ações políticas, econômicas e socioculturais para garantir este processo.
No entanto, cometeu-se um gravíssimo erro, o de menosprezar que o movimento da vida não se rende, completamente, à norma. As cidades das pranchetas e dos acordos ao serem erigidas seriam de uma forma ou de outra as cidades dos sujeitos. É a máxima do espaço geográfico de que as relações e ações humanas se espacializam. Essas ações e relações, ao se espacializarem, irão delinear a cidade real na cidade ideal. Os espaços idealizados inicialmente para ser cartesianos, homogêneos e isotópicos, a partir do movimento da vida se transformam em espaços desviantes, heterogêneos e heterotópicos. É exatamente este movimento que denominamos de deslizamentos de sentidos.
Desta maneira, considera-se que o deslizamento de sentidos provocado pelos sujeitos não desejados nestas três capitais é um dos fatores que as coloca na condição de territórios em disputas pelas diferentes classes sociais que as constituem, uma vez que demonstra e espacializa as contradições existentes no modelo de produção e no modo de vida apregoada pelo sistema capitalista. É exatamente este fator que dará subsídios para a defesa de que há uma nova (des)ordem nos espaços urbanos de Goiânia, Palmas e Brasília.
Início da pesquisa: março de 2011
Defesa/conclusão prevista ou realizada: outubro de 2014
[1] A referida dissertação de Mestrado, intitulada “Goiânia: o mito da cidade planejada” teve como proposta central discutir como as práticas socioculturais, materiais e imateriais incidiram diretamente na feição e no conteúdo do espaço goianiense no período de 1930 a 1950, observando as transformações ou, até mesmo, a desconfiguração do plano original, que implica, entre outras características, o conflito entre a norma e a vida. Contou com a orientação do Professor Dr. Eguimar Felício Chaveiro e foi defendida em 2009 no Instituto de Estudos SocioAmbientais da Universidade Federal de Goiás –IESA-UFG.
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